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3. ONDE ESTAMOS

 

A conjuntura internacional aponta para um novo desenho das instituições multilaterais, com possíveis reformas no sistema das Organizações das Nações Unidas (ONU), no Fundo Monetário Internacional (FMI) e no Banco Mundial, dentre outras instituições financeiras e de fomento ao desenvolvimento. Neste momento, processos políticos como a ajuda a bancos em alguns países e a realização de cúpulas internacionais para debater a crise financeira mundial são ferramentas de um mesmo sistema, que devem ser acompanhados pela sociedade civil, pois podem apontar para uma nova arquitetura mundial que não altere as relações de poder entre as nações.

 

A crise atual – mais um indício da necessidade desta revisão - exige que decisões sejam tomadas e cabe à sociedade civil lutar, defender e estar atenta para os reflexos destas decisões nas dimensões política, financeira, econômica, energética, alimentar, climática e de direitos em todo o mundo. É uma crise global, mas as soluções não podem ser vistas somente no âmbito internacional. A desigualdade entre as nações é imensa e pode ser mais dramática conforme os caminhos a serem seguidos. É hora de acertar as contas com a história e reduzir as desigualdades e injustiças, internamente nos países e entre os países.

 

No entanto, para a América Latina, o tema da desigualdade é central, dado que os países do Sul sofrem as injustiças deste sistema. Uma das formas desta exploração é a expropriação de seus recursos financeiros, naturais e humanos.

 

Neste sentido, é fundamental fortalecer as organizações da sociedade civil e os movimentos sociais, tanto no plano nacional quanto no plano internacional, posto que são os sujeitos capazes de ação para a transformação social radical, comprometidos com uma cultura de solidariedade e de respeito à diversidade e promoção da vida. São também fundamentais para o controle da ação dos governos e das empresas nacionais e transnacionais que expandem suas fronteiras atuando, explorando e causando danos ao meio ambiente e à cultura dos povos.

 

A sociedade brasileira, escravista e patriarcal na origem, destaca-se mundialmente por sua condição de injustiça e desigualdade social. Da família às estruturas do Estado, é marcada pelo patrimonialismo, pelo autoritarismo, pela discriminação racial e étnica, pelo machismo e pela homofobia, o que compromete a capacidade democrática da participação, a distribuição de renda e dos bens e serviços socialmente produzidos, assim como a consolidação e pleno exercício dos direitos humanos.  Por outro lado, temos um setor da sociedade civil articulado politicamente, que procura se contrapor a este modelo de diferentes formas, o que tem resultado na construção de novos direitos como aqueles relacionados à comunicação e informação, à diversidade de raça, gênero, cultural, sexual e à acessibilidade.

 

Este cenário reforça o papel da sociedade civil organizada que tem resultado, não raro, na criminalização de ONGs e de movimentos sociais. Trata-se de uma prática recorrente do campo conservador que, utilizando-se dos meios de comunicação de massa, do parlamento e do Poder Judiciário, desfere ataques a grupos e organizações que contrariam interesses políticos e econômicos hegemônicos ao lutar por direitos e por melhores condições de vida para diversos segmentos da população.  A investida desses setores tem sido direcionada, em especial, a trabalhadores (as) do Movimento Sem Terra (MST), a organizações de mulheres que lutam pela descriminalização do aborto, ao movimento negro, a povos indígenas e quilombolas. Vale ressaltar que outrora, estas mesmas forças procuravam criminalizar o movimento sindical e suas lideranças.

 

Diante desse cenário, é essencial garantir sustentabilidade política e financeira para estas organizações que são fundamentais para a formação de uma sociedade justa e democrática.

 

Não será pelo caminho do crescimento econômico a qualquer custo e dos patamares atuais de distribuição de renda e de políticas focalizantes, que o país alcançará uma redução efetiva das desigualdades sociais e um desenvolvimento que, de fato, ponha fim às profundas diferenças na distribuição da riqueza nacional.

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